Na época já havia um grande número de empresas que enveredava por esse caminho, mas quem ditava as regras do mercado era a toda-poderosa Atari, que desenvolvia e lançava os jogos mais inovadores do momento, pavimentando de certa forma esse meio ainda em formação.
O acervo de máquinas da Atari por si só já daria uma dúzia de posts, mas esse não é o foco do tema de hoje. A Taito, uma fabricante japonesa de máquinas de fliperama já vinha percebendo o potencial dos arcades e já ariscava o lançamento de algumas criações.
Em 1978, uma guinada revolucionária estava para acontecer vinda do Japão e criaria o próximo ícone universal da cultura contemporânea. O nome da criança? Space Invaders, da Taito.
Os caminhos para a criação da primeira invasão maciça de aliens nos arcades são contados por Tomohiro Nishikado, o pai da ameaça galática, nessa entrevista:
“Quando eu comecei na indústria de games a maioria deles vinha dos EUA. Então, decidi estudar esse assunto... no intervalo de seis ou sete anos entre Pong e Space Invaders fiz todo tipo de vídeo games, aproximadamente dez no período... enquanto eu desenvolvia várias idéias, Breakout foi lançadp nos EUA e essa foi, provavelmente, a maior influência no meu design de Space Invaders”.
Nessa outra entrevista à Edge Online, Nishikado dá mais detalhes: “Não foi um trabalho fácil. Inicialmente, pensei em fazer tanques e aeroplanos como alvos, mas era tecnicamente muito difícil fazer os aeroplanos parecerem como se estivessem voando. O movimento humano seria mais fácil, mas senti que seria imoral atirar em seres humanos, mesmo que eles fossem os caras maus. Então, ouvi falar de um filme chamado “Star Wars” (leu o penúltimo post?), lançado nos EUA e que viria para o Japão no ano seguinte. Então, fui em frente com um jogo baseado no espaço, que tinha aliens espaciais como alvos”.
Na mesma entrevista, o criador prossegue: “O design dos aliens foi inspirado em “A Guerra dos Mundos”, de H. G. Wells. Na história, os aliens se assemelhavam a polvos. Desenhei uma imagem em bitmap baseado na idéia e, então, criei outros que se pareciam com criaturas do mar, como uma lula ou um siri”.
Curiosamente, algumas informações afirmam que outra fonte de inspiração teria sido um sonho para lá de bizarro de Nishikado, em que aliens tomam o lugar de Papai Noel e invadem a Terra para roubar presentes, mas o próprio autor parece não confirmar o fato.
O sucesso do arcade foi tão impressionante que começaram a escassear moedas de 100 ienes no Japão, que não podiam ser repostas no mercado mais depressa do que os jovens as depositavam nas máquinas.
O arcade também tem o mérito de ter vencido o bloqueio de outros estabelecimentos comerciais, que até então não viam as máquinas de fliperama com bons olhos e entendiam que a presença desses equipamentos poderia prejudicar sua imagem junto à clientela. O site japonês do jogo comenta em seu texto que “Space Invaders foi o primeiro game de arcade a se espalhar por pizzarias e sorveterias” (além de aeroportos, mercearias, lavanderias, etc.).
Diferentemente dos jogos da época, Space Invaders não tinha um tempo limite pré-determinado e competia à destreza e estratégia do jogador a capacidade de manter-se vivo durante a partida. O jogo também oferecia pela primeira vez um placar com as pontuações mais elevadas, o High Score, e isso criava um ambiente de competitividade que levava os jovens a gastar horas (literalmente) em frente às máquinas.
Esses recursos chamavam a atenção e se tornariam referências para o game design, como nos apresenta o pai da idéia: “Eu introduzi uma série de elementos inovadores nos vídeo games. Primeiro, inimigos que respondiam aos seus movimentos e atacavam você. Até Space Invaders aparecer, a maioria dos games envolvia situações praticamente não-interativas onde o jogador atacava unilateralmente os alvos, dentro de um certo limite de tempo... Além disso, mesmo se o jogador tiver mais lasers de base à disposição o jogo termina quando os invasores alcançam o seu território. Acho que esses elementos adicionaram mais vibração ao jogo”, disse Nishikado-san em outro artigo online.
O site de games The Dot Eaters também comenta o sucesso do porte para o 2600: “Em 1980 a Atari se torna a primeira companhia de vídeo games a licenciar um jogo de arcade. Foi o executivo Manny Gerard quem considerou o enorme potencial do mega “hit” Space Invaders... Ele convenceu o chefão da Warner, Ray Kassar... e Space Invaders se tornou “O” programa para o VCS (Nota do blogueiro: a versão original do texto usa a expressão ‘killer app’, comum para designar aplicativos ‘matadores’ que determinam o sucesso de um determinado equipamento). As pessoas corriam para comprar o sistema só para jogar o game”.
Das muitas cópias que surgiram desde a criação do original, Nishikado comenta, com muito bom humor, qual a sua preferida: “De todas as imitações de Space Invaders, Galaxian foi a que mais me impressionou. As cores eram maravilhosas”. (9A)Se você quiser jogar S. I. não faltam sites na net disponibilizando o game e algumas variáveis, como este aqui, por exemplo. Se quiser brincar com os invaders clonados, criados em código ASCII (e bem bonitinho), clique nesse link. Há também o site do artista plástico Invader, que mostra as obras de rua inspiradas na arte do game.
Agora que o game está fazendo 30 anos, há uma série de comemorações em andamento, incluindo novos lançamentos do velho clássico e um site especialmente criado para este acontecimento.
O Yahoo Japão fez uma brincadeira onde os monstrinhos destruíam a página do site e, então, permitiam a você jogar o game. Infelizmente, a brincadeira já saiu do ar.
A Taito ainda lançou uma nova versão do game para PSP, o Extreme.
Há um arquivo demo disponível para download aqui.
Abaixo, você vê algumas imagens das primeiras artes originais para os personagens. Outras artes podem ser vistas no já citado artigo da Computer and Videogames.
Vida longa e próspera aos alienígenas!