sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

CHICKEN! FIGHT LIKE A ROBOT!


Se você gostava de vídeo games no começo dos anos 80 já ouviu falar em Berzerk, um dos grandes lançamentos dos saudosos arcades monocromáticos, ainda nos primórdios da videogamemania.


De jogabilidade simples mas muito envolvente, o jogo proporcionava um elevado nível de desafio, em que você controlava o humanóide guerreiro que tinha que correr as inúmeras salas de um labirinto no planeta Mazeon, evitando ser alvejado pelos lasers dos fanáticos andróides ou colidir contra eles e as paredes eletrificadas do lugar.

O jogo foi o primeiro arcade de sucesso da Stern Electronics (que comercializaria também outros arcades como Scramble – da Konami – e Astro Invader, seu clone de um outro game de sucesso...) e que era mais conhecida por suas máquinas de pinball. A emprsa acertou em cheio ao apostar no projeto do jovem Alan McNeil, empregado de uma subsidiária, a URL. Alan McNeil acabara de participar do desenvolvimento do pinball Meteor e, segundo consta, sonhou certa noite com um game em preto e branco em que robôs alienígenas atacavam o herói. A idéia, claramente inspirada no game ‘Robots’, criado em BASIC, e nos romances de ficção científica de Fred Saberhagen foi levada adiante e transformou-se em um sucesso de vendas.

Pouco antes do game ser lançado, no entanto, Defender, produzido pela Willams, obteve grande êxito de público apresentando tela com 16 cores (um feito notável para a época!), exigindo uma estratégica mudança na produção do game, que passou a incluir um circuito integrado de “color overlay”, que inseria cor em determinadas áreas do jogo na tela antes que os gráficos fossem reproduzidos no monitor.


O game foi responsável por algumas das muitas inovações tecnológicas nos arcades em uma época em que estas máquinas ainda engatinhavam como dispositivos de entretenimento e foi o primeiro game do gênero ‘kill the robots’ que, de certa forma, foi antecessor aos games FPS como Wolf3D e Quake. Alguns analistas o consideram o verdadeiro pai de Doom, embora eu veja aí um certo exagero e distorção da importância do jogo.

O charme do game, contudo, estava no fato de que, pela primeira vez nossa interação com os inimigos parecia mais próxima e real: os combativos robôs intimidavam o usuário, provocando-o com um breve mas expressivo arsenal de insultos e ameaças, por meio do uso inovador de um chip sintetizador de voz, algo muito além da tecnologia apresentada por outras máquinas e que inscreveu Berzerk na história dos games ao associar este recurso a uma inteligente e inspirada criação de frases de verve cômica, que faziam do game um mix de paranóia e diversão simultâneos.

A grande sacada do game design do produto residia nesse humor juvenil e nonsense, que se expressava não apenas pelas frases dos inimigos, mas na patética performance dos andróides que colidiam entre si e, por vezes, eliminavam-se atirando uns nos outros.

Era impossível não curtir essa dinâmica do jogo. Quando seu personagem passava por uma sala sem eliminar os robôs era inevitável ouvir a célebre frase “Chicken! Fight like a Robot!”. Para completar a piada, o grande vilão de Berzerk era nada menos que um singelo círculo de face sorridente, no melhor estilo Smiley que além de combater o humanóide também destruía todos os robôs em seu caminho.

Há muitas outras informações e curiosidades sobre o game e tentarei compilar as mais interessantes abaixo:
- O jogo possuía a impressionante marca de 64.000 combinações aleatórias de labirintos para sua jornada;

- A Atari foi a responsável pelo que alguns consideram como a melhor conversão de um game de arcade para console e, para ter esse privilégio, pagou a bagatela de 4 milhões de dólares à Stern;


- A empresa Milton Bradley Co. (famosa por jogos como Batalha Naval e Hero Quest, entre muuuitos outros – e hoje pertencente à Hasbro) lançou em 1983 um jogo de tabuleiro baseado no game, cujas imagens você pode ver aqui e aqui;

- O jogo vendeu algo em torno de 50.000 máquinas, o maior sucesso entre os arcades produzidos em território norte-americano (Space Invaders, por exemplo, venderia cerca de 500.000 máquinas no mundo todo só no primeiro ano de vida). Berzerk só não vendeu mais máquinas em virtude de um crônico defeito em seu joystick ótico, que fez a empresa receber muitas devoluções e perder milhares de vendas;

- Buchner & Garcia, a dupla que faturou milhões com o LP (sabe o que é isso???) “Pacman Fever”, incluiu a canção “Going’ Berzerk” em seu álbum. Ouça clicando aqui;

- O custo de digitalização para sintetizar áudio naquela época era de US$ 1.000 por palavra, o que fez com que a equipe se desdobrasse para criar um conjunto de frases coerentes com somente 16 palavras. Baixe estes e outros sons de games nesta página;

- Existe o espaço de um pixel entre a cabeça do humanóide e seu ombro. A programação do jogo simplesmente não registra a existência desse ponto. “Well... e daí?”, você pergunta. Se um robô acertar seu personagem nesse ponto, ele não morrerá.

- Allen McNeil já havia produzido outro game de sucesso anteriormente, pela Nutting & Associates, para a Midway (Lembra-se de Gunfight?);

- Tony Miller, chefe de engenharia da Stern, foi o responsável por adicionar, de de qualquer jeito, a colorização ao game. Nessa entrevista online de 2001, ele comenta o fato: “Allen Brunson: Eu encontrei na internet um arquivo postado por você numa Usenet sobre a gênese do Berzerk, de como você adicionou cores na última hora, de forma destrambelhada. Tony Miller: Fui eu quem deu nome à placa [de som] adicionada. Eu a chamei de Bull Shit Color, pois ela mapeava apenas quadrados de 4x4 pixels em cores de 4 bits. O sistema original era de apenas um bit por pixel. Tivemos que melhorar o nome para fins de publicação e, por essa razão [mudamos para] Buffer System Color.”

- Em outro trecho da entrevista, Tony Miller comenta a digitalização de sons: “Para as vozes, viemos com uma lista de palavras que queríamos usar e frases baseadas nessas palavras. Enviamos a lista para um grupo de trabalho em Bay Area que fez a amostragem e digitalização. Eles tinham um rapaz com uma voz tremendamente monotônica para as frases e disseram que isso simplificava a compressão. Eu acho que a voz dele é muito parecida com o que você ouve em Berzerk. “

Se as lágrimas lhe subiram aos olhos recordando os bons tempos dos 8 bits (e até menos nesse caso!), mate as saudades de Berzerk, com as imagens do jogo disponíveis nesse site ou jogando online nesse link.

Destroy the humanoid!!!



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