quinta-feira, 24 de abril de 2008

30 ANOS DE INVASÃO

No final dos anos 70 a indústria de jogos eletrônicos começava a se firmar como potência no mercado de entretenimento, com lançamento frequente de novos arcades, ainda que os tipos de jogos se mostrassem repetitivos, seguindo a bem sucedida estrutura de jogos de corrida, de tiro e de rebatimento, como os inúmeros clones de Pong.

Na época já havia um grande número de empresas que enveredava por esse caminho, mas quem ditava as regras do mercado era a toda-poderosa Atari, que desenvolvia e lançava os jogos mais inovadores do momento, pavimentando de certa forma esse meio ainda em formação.

O acervo de máquinas da Atari por si só já daria uma dúzia de posts, mas esse não é o foco do tema de hoje. A Taito, uma fabricante japonesa de máquinas de fliperama já vinha percebendo o potencial dos arcades e já ariscava o lançamento de algumas criações.

Em 1978, uma guinada revolucionária estava para acontecer vinda do Japão e criaria o próximo ícone universal da cultura contemporânea. O nome da criança? Space Invaders, da Taito.

Os caminhos para a criação da primeira invasão maciça de aliens nos arcades são contados por Tomohiro Nishikado, o pai da ameaça galática, nessa entrevista:
“Quando eu comecei na indústria de games a maioria deles vinha dos EUA. Então, decidi estudar esse assunto... no intervalo de seis ou sete anos entre Pong e Space Invaders fiz todo tipo de vídeo games, aproximadamente dez no período... enquanto eu desenvolvia várias idéias,
Breakout foi lançadp nos EUA e essa foi, provavelmente, a maior influência no meu design de Space Invaders”.

Nessa outra entrevista à Edge Online, Nishikado dá mais detalhes: “Não foi um trabalho fácil. Inicialmente, pensei em fazer tanques e aeroplanos como alvos, mas era tecnicamente muito difícil fazer os aeroplanos parecerem como se estivessem voando. O movimento humano seria mais fácil, mas senti que seria imoral atirar em seres humanos, mesmo que eles fossem os caras maus. Então, ouvi falar de um filme chamado “Star Wars” (leu o penúltimo post?), lançado nos EUA e que viria para o Japão no ano seguinte. Então, fui em frente com um jogo baseado no espaço, que tinha aliens espaciais como alvos”.

Na mesma entrevista, o criador prossegue: “O design dos aliens foi inspirado em “A Guerra dos Mundos”, de H. G. Wells. Na história, os aliens se assemelhavam a polvos. Desenhei uma imagem em bitmap baseado na idéia e, então, criei outros que se pareciam com criaturas do mar, como uma lula ou um siri”.

Curiosamente, algumas informações afirmam que outra fonte de inspiração teria sido um sonho para lá de bizarro de Nishikado, em que aliens tomam o lugar de Papai Noel e invadem a Terra para roubar presentes, mas o próprio autor parece não confirmar o fato.

O sucesso do arcade foi tão impressionante que começaram a escassear moedas de 100 ienes no Japão, que não podiam ser repostas no mercado mais depressa do que os jovens as depositavam nas máquinas.

O arcade também tem o mérito de ter vencido o bloqueio de outros estabelecimentos comerciais, que até então não viam as máquinas de fliperama com bons olhos e entendiam que a presença desses equipamentos poderia prejudicar sua imagem junto à clientela. O
site japonês do jogo comenta em seu texto que “Space Invaders foi o primeiro game de arcade a se espalhar por pizzarias e sorveterias” (além de aeroportos, mercearias, lavanderias, etc.).

Diferentemente dos jogos da época, Space Invaders não tinha um tempo limite pré-determinado e competia à destreza e estratégia do jogador a capacidade de manter-se vivo durante a partida. O jogo também oferecia pela primeira vez um placar com as pontuações mais elevadas, o High Score, e isso criava um ambiente de competitividade que levava os jovens a gastar horas (literalmente) em frente às máquinas.

Esses recursos chamavam a atenção e se tornariam referências para o game design, como nos apresenta o pai da idéia: “Eu introduzi uma série de elementos inovadores nos vídeo games. Primeiro, inimigos que respondiam aos seus movimentos e atacavam você. Até Space Invaders aparecer, a maioria dos games envolvia situações praticamente não-interativas onde o jogador atacava unilateralmente os alvos, dentro de um certo limite de tempo... Além disso, mesmo se o jogador tiver mais lasers de base à disposição o jogo termina quando os invasores alcançam o seu território. Acho que esses elementos adicionaram mais vibração ao jogo”, disse Nishikado-san em outro
artigo online.












Em valores, comenta-se que o jogo teria arrecadado mais de US$ 500 milhões em receita com as múltiplas plataformas, incluindo arcades, o consloe Atari 2600 e a Nintendo, algo de que a Taito não pode reclamar. Esse não parece ser o caso de Tomohiro Nishikado. Embora tenha galgado uma posição gerencial na empresa, o designer não recebeu um tostão a mais pela criação, como conta Bill Kunkel do site The Game Doctor: “Nishikado não parecia muito contente com a impossibilidade de partilhar a bonança de Space Invaders... ‘Não recebi nenhum royalty por S. I. ou seus produtos’, ele explica, ‘O dinheiro foi todo para a Taito’”.De fato, o game rendeu tanto à Taito e seus parceiros comerciais que, segundo consta, a Atari pagou um valor astronômico para fazer o porte do game para o 2600 e ainda pode se dar ao luxo de realizar o 1º grande torneio de vídeo game do mundo. É Bill “Game Doctor” Kunkel quem conta essa história: “... Eu cobri as finais no nordeste do país que aconteceram no magnífico Citycorp Centre no East Side de Manhattan. Quando eu saí do metrô, fiquei impressionado ao ver uma enorme fila de participantes se estendendo para fora do prédio”.
O mais interessante na aquisição de Space Invaders para o 2600 é que o mercado já estava saturado de cópias e clones do jogo, mas a empresa queria associar seu console ao sucesso imbatível do nome Space Invaders e a estratégia deu certo.

O site de games The Dot Eaters também comenta o sucesso do porte para o 2600: “Em 1980 a Atari se torna a primeira companhia de vídeo games a licenciar um jogo de arcade. Foi o executivo Manny Gerard quem considerou o enorme potencial do mega “hit” Space Invaders... Ele convenceu o chefão da Warner, Ray Kassar... e Space Invaders se tornou “O” programa para o VCS (Nota do blogueiro: a versão original do texto usa a expressão ‘killer app’, comum para designar aplicativos ‘matadores’ que determinam o sucesso de um determinado equipamento). As pessoas corriam para comprar o sistema só para jogar o game”.

Das muitas cópias que surgiram desde a criação do original, Nishikado comenta, com muito bom humor, qual a sua preferida: “De todas as imitações de Space Invaders, Galaxian foi a que mais me impressionou. As cores eram maravilhosas”. (9A)Se você quiser jogar S. I. não faltam sites na net disponibilizando o game e algumas variáveis, como este aqui, por exemplo. Se quiser brincar com os invaders clonados, criados em código ASCII (e bem bonitinho), clique nesse link. Há também o site do artista plástico Invader, que mostra as obras de rua inspiradas na arte do game.

Agora que o game está fazendo 30 anos, há uma série de comemorações em andamento, incluindo novos lançamentos do velho clássico e um site especialmente criado para este acontecimento.

O Yahoo Japão fez uma brincadeira onde os monstrinhos destruíam a página do site e, então, permitiam a você jogar o game. Infelizmente, a brincadeira já saiu do ar.

A Taito ainda lançou uma nova versão do game para PSP, o Extreme.
Há um arquivo demo disponível para download
aqui.



Abaixo, você vê algumas imagens das primeiras artes originais para os personagens. Outras artes podem ser vistas no já citado artigo da Computer and Videogames.

Vida longa e próspera aos alienígenas!







5 comentários:

Anônimo disse...

Saudações CyberKao:

Li e reli várias vezes o seu texto, é uma satisfação enorme ver o quanto você fala não só sobre Space Invaders mas de todo o processo e acontecimentos á volta deste jogo. É fantástico ver uma pessoa tratando da história dos videogames e jogos retrô, com tanta propriedade, honestidade, seriedade e respeito. Meu trabalho se faz e se mostra modesto diante do seu, e o eu aplaudo de pé.

Você não somente sai na frente, mas você representa de maneira magnifica a história neste trabalho, eu não entendo como as pessoas não postaram uma única palavra ou observação. Mas o colega (se me permite chama-lo desta forma) sabe o quanto é difícil neste país, chamar a atenção do grande público, quanto a história dos jogos retrô, principalmente através de textos inteligentes e uma linguagem apurada.

Se me permitir também gostaria de incorporar alguns elementos de seu trabalho no meu, claro que reconhecendo sua devida autoria e origem.Porém não quero dizer somente que faria parte do trabalho como um membro de equipe, mas como um amigo, que é como gostaria de chama-lo.

Anônimo disse...

Agora que falei do Autor, quero falar da Obra. Um trabalho rico em informações, imagens e vídeo. Que consegue captar a atenção do leitor e fazer com que ele mergulhe em toda essência da época e do jogo. Extremamente educativo para a antiga geração de jogadores e inspirador para as novas gerações.

Anônimo disse...

Saudações Kao:

Obrigado pela camiseta, sabe que dentro em breve eu pretendo criar uma também para representar nosso grupo, apesar da gente puxar um pouco para o sufixo "Game" usado pelos americano, o meu maior desejo é criar e dar uma identidade ao Brasil nos jogos, acho que já esta na hora do Brasil crescer e aparecer neste universo. Tenho muita esperança neste meu sonho, e posso dizer que este meu sonho renova e ganha mais força ao ver a competência dos trabalhos do amigo aliado á todo respeito e carisma que ele nos inspira.

Eu tenho um outro trabalho á caminho já na sua fase final sobre um outro pogramador. Diferente do que faço de postar primeiro na Comunidade, quero postar ao amigo, e quero dedicar o mesmo á você. Mais que uma divulgação ( pois estamos tentando incorporar em sites aqui do Brasil, mas principalmente no Exterior) estamos tentando inverter a ordem, deles pesquisarem nossos trabalhos e conhecerem nossa visão sobre os jogos.

E o mesmo que desejas para mim meu amigo, eu lhe digo: Não pare, continue e leve este seu conhecimento e vivência de games, sempre o mais longe que puder, terá sempre meu apoio incondicional.

Game Master.

Anônimo disse...

Kao:

Conforme lhe prometi, você esta sendo o primeiro á receber o Link do meu novo trabalho, desta vez sobre Toru Iwatani - criador de Pac Man. Esta recém saído das prensas:

http://gamemasterlist.blogspot.com/2008/11/game-designers-programmers-review-toru.html

Anônimo disse...

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