quarta-feira, 7 de maio de 2008

ANTES DE FINAL FANTASY

No final dos anos 80 muitos computadores tentavam conquistar a preferência do público, oferecendo, além de SO e softs de planilhas e textos, games.
A Apple mandava muito bem, com sua plataforma Machintosh, que exibia luxuosas 16 cores na tela e chegou a ser o hardware preferido para o lançamento de jogos. Ultima, um RPG que existe ainda hoje para você jogar online, começou com a Apple em 1980 (e vale um post futuro!).

Já narrei aqui que outros equipamentos também faziam sucesso, como o Amiga (onde joguei muito Quackshot, lembra do game?) e o MSX, berço de Solid Snake e Metal Gear Solid, que teve post recente nesse blog.

Comendo por fora, no entanto, a IBM ia ganhando espaço com seu ardware barato, montado com peças de fabricantes diversos e seu sistema operacional sofrível, produzido pela M$. Isso não fez com que os consumidores saíssem correndo, pelo contrário, o preço baixo não só ajudou a vender a tralha como transformou o PC em padrão semi-hegemônico e que, por um certo período, quase quebrou a Apple (Ah, John Sculley... Isso também foi culpa sua!).

Foi para o PC (e logo depois para o Amiga, C64 e outras máquinas) que a produtora New World Computing lançou, em 1990, King´s Bounty, um clássico que misturava estratégia em tempo real (RTS) e RPG fazendo inesperado sucesso.

Já nessa época havia inúmeros jogos de computador baseados em RPG de mesa. A própria TSR, empresa produtora de Dungeons & Dragons, o RPG mais vendido do mundo, lançou por meio da SSI (Strategic Simulation Inc.) vários jogos ambientados em seus mundos de fantasia medieval, como por exemplo Pool of Radiance (que ganhou há não muito tempo uma atualização em 3D) e outros também famosos.

Aliás, por falar em fantasia medieval, você ficou sabendo no post anterior sobre Toe Jam & Earl que Greg Johnson, co-autor do jogo é fã de Rogue, outro jogo baseado na fantasia e produzido em ASCII, descendente direto dos jogos de texto como Colossal Cave Adventure, mostrando que esse ciclo histórico é beeem longo! Não leu? Clique aqui.

King´s Bounty foi pioneiro por uma série de inovações presentes no jogo. Era possível, por exemplo, escolher aleatoriamente as missões (alguém aí falou em Shemnue ou GTA?) e também era possível terminar o jogo sem precisar passar por todas as fases se, a qualquer momento, você conseguisse localizar o Cetro da Ordem, objeto central da trama da game.

Curiosamente, apesar de todas as inovações e qualidades do game, o sucesso alcançado não foi retumbante como outros que viriam depois, incluindo aí seu game co-irmão Heroes of Might & Magic (e este eu tenho certeza de que você já ouviu falar).

HoM&M, aliás, bebeu fundo na fonte de seu irmão mais velho e reproduz muitos dos elementos presentes no design de King´s Bounty, como o sistema de combate por turnos, as criaturas (guerreiros, anões, dragões, ...), estratégias de ação, etc.

Isso não faz de KB um primo pobre ante seu sucessor. O jogo, que praticamente inaugura um gênero, oferecia muitos recursos interessantes, como a possibilidade de se recrutar estas criaturas mágicas, seguir jornada em busca de tesouros e inúmeras opções de táticas para vencer o inimigo em combate.

Não é por acaso que a esposa de John Van Caneghem, o criador e designer do game, é fã confessa de King´s Bouty, como atesta o próprio, nesta entrevista:
"...eu comecei a trabalhar em King´s Bounty e ela (minha esposa) ficou encantada com ele. Voltei a trabalhar com Might & Magic e todo mês, toda semana, todo dia ela dizia: 'Quando você vai fazer uma sequência para King´s Bounty? Este é o melhor dos jogos. Melhor que Might & Magic! Este jogo merece uma sequência.!'"

A moça estava certa, mas a desejada sequência ainda demoraria muitos anos para aparecer. Nesse meio tempo, HoM&M tornou-se uma franquia de sucesso, que vale também um post futuro.

O site Gamasutra editou em uma lista dos 20 games com design essencial e observa as similaridades e características dos dois jogos, nesse comentário:

"Originalmente, King´s Bounty tinha pouco a ver com os jogos de M&M, mas foi usado como base para o lançamento da série, quando seu criador decidiu diversificar a franquia. E o mais bacana de King´s Bounty, que também apareceu em algumas versões de M&M é o Over-puzzle (algo como um quebra-cabeças mais complicado)."

Essa é uma característica interessante do jogo. Resumidamente, o over-puzzle tem a ver com a história do game, que envolve o roubo do já citado Cetro da Ordem do rei Maximus pelo vilão Arech Dragonbreath. Ao invés de manter o tesouro consigo, Arech o escondeu em um dos quatro continentes e marcou sua localização em um mapa. Seu personagem, um nobre cavaleiro escolhido pelo rei Maximus para resgatar o item, deverá sair em missão pelo mundo, angariando legiões de soldados e eliminando os comandantes locais devotados ao vilão. O mapa foi dividido em 25 partes espalhadas entre estes comandantes e sempre que você vence um combate adquire um pedaço do mapa.

Esta estrutura fragmentada e aleatória do jogo torna as partidas mais divertidas pois a busca pelo Cetro sempre será diferente.

O jogo ainda contempla muitas curiosidades como a possibilidade de recrutar fantasmas para seu exército. No entanto, sempre que os fantasmas eliminam os inimigos, estes também se tornam fantasmas. Se este grupo ficar mais numeroso do que a quantidade de espíritos que você pode contratar, eles se voltarão contra você.

Um review do jogo presente no site Mobigames comenta que "a música é terrível e toca de novo e de novo" e que "é melhor King´s Bounty com a tv sem som e o estéreo ligado".

Outro aspecto interessante do jogo é que, para salvar sua partida, é necessário entrar com uma senha de - pasmem! - pelo menos 50 caracteres. Mesmo em Might & Magic o problema não foi totalmente resolvido, como informa o site Good Old Days: "O único problema aqui (em Might & Magic) era memorizar a combinação numérica para cada encanto".

King´s Bounty teve versões para várias plataformas incluindo uma de 16 bits para Mega Drive/Genesis, que teve de ser totalmente redesenhada, segundo o Wikipedia. O Wiki ainda informa que o programador ucraniano Sergie Prokofiev desenvolveu uma versão não-oficial do game e posteriormente outra continuação chamada Malgrimia, mas não encontrei outras referências a respeito em uma língua que eu compreendesse.

Para finalizar, informo que está saindo do forno a tão esperada sequência oficial de King´s Bounty. Se você quiser conferir as melhorias conquistadas nestes 18 anos de hiato, baixe a versão demo do game.

Encerro com as palavras generosas do review do site Game Fabrique: "King´s Bounty é o precurssor da série Heroes of Might & Magic e merece esse título. O jogo tem excelente gameplay, belos gráficos e uma história recheada de vilões com background".

Vida longa ao Rei!!!

Um comentário:

andre disse...

Eu adoro King´s Bounty

Jogabilidade muito boa, quando o encontrei achei super diferente pq é como se fosse uma das cruzadas.

Otima analise

Parabens